terça-feira, setembro 09, 2008

O (Verdadeiro) Pecado
Hoje, no caminho para o trabalho, que faço sempre de transporte público, deparei-me com um navio gigantesco, com cerca de 17 andares (como ouvi um turista francês dizer), atracado no Cais da Rocha, em Lisboa. Olhei para aquele “prédio flutuante” enorme e para as chaminés que estavam no topo (contei 4, pelo menos) e pensei: “A poluição que esta merda não deve fazer! A quantidade de CO2 que esta merda não deve emitir para a atmosfera – já sem falar na poluição dos mares – para uma cambada de cabrões ocidentais fazerem férias num cruzeiro com tudo e mais alguma coisa a bordo: piscinas, casinos, restaurantes, salas de espectáculo, etc, etc, etc. Essas coisas também existem em “terra”, por isso não consigo compreender o fascínio… Será que é por só se ver mar durante não sei quantos dias a fio (sim, porque é pouco o tempo que se passa nas cidades que fazem parte do itinerário)? Será que é pela possibilidade de se enjoar e vomitar até as próprias tripas? Será que é pela adrenalina de “viver” uma tempestade ou o navio chocar contra um iceberg (quem manda a Deus pôr merdas dessas a flutuar no meio dos oceanos? Isso só atrapalha os “cruzeiros”! O que vale é que ao ritmo que os seres humanos poluem o planeta, daqui a pouco tempo esses blocos de gelo deixarão de ser incómodo), tal como aconteceu com o famoso “Titanic”, o barco “inafundável”? Ou será que é, pura e simplesmente, uma questão de exibicionismo, mostrar que se tem dinheiro (muito dinheiro) para gastar numas férias de luxo sobre a água?
E não pensem que estou a dizer isto por ser uma ressabiada que tem inveja de quem pode fazer este tipo de férias! Se me saísse o euromilhões, mais depressa eu gastava o dinheiro a comprar esses navios todos que andam por aí e desmantelava-os. Mas depois ia uma data de gente para o desemprego (as pessoas que constroem os navios, as que lá trabalham, os operadores turísticos que vendem as “viagens de sonho”, as que trabalham nos portos que recebem aquelas bisarmas) e a vida já está tão difícil para o comum dos mortais!
O que é facto é que o ser humano só pensa no seu bem-estar e conforto, nas experiências que pode acumular, nas fotos que pode ostentar aos amigos e até ao mundo inteiro, se quiser, através da internet… Mesmo que isso signifique destruir o planeta, mesmo que isso provoque doenças, como o cancro, por exemplo, devido à elevada taxa de poluição que todos os dias respiramos e ingerimos sob todas as formas (como os alimentos que comemos e a água que bebemos).
Se cada um de nós contribuísse com pequenos e simples gestos, a saber: - fazer a separação do lixo para reciclagem; - tomar banhos curtos e fechar a torneira enquanto se está a ensaboar (quem lava louça à mão também deve ter esse cuidado e aproveitar a água para pôr na casa de banho, por exemplo); - EVITAR OS SACOS DE PLÁSTICO (e isto ponho em letras garrafais, porque são uma praga! Reciclem os sacos – agora há uns nos supermercados mesmo para esse efeito ou “roubem” às vossas avós os carrinhos de rodinhas que elas usam para ir às compras); - evitar gastar energia desnecessariamente (luzes acesas por toda a casa ou no local de trabalho… Se tiverem a sorte de viver numa casa ou de trabalhar num local com muita luz natural, evitem usar a luz eléctrica); - and so on (podia ficar aqui o dia todo, mas cabe a cada um ver em que medida pode contribuir para baixar os níveis de emissão de CO2).
Se cada um de nós estivesse disposto a abdicar de certas “regalias”, como ir tomar o café ou comprar o pão de carro, por exemplo (já nem falo em ir de transportes para o trabalho, porque isso é “coisa de pobre”, de gente da “classe operária”), talvez o planeta durasse mais uns anitos, mas assim, pelo andar da carruagem, só quem tiver dinheiro para emigrar para Marte (por que é que acham que os americanos andam lá metidos? Eles podem ter muitos defeitos, e são dos que mais poluem, todavia, não são parvos) é que se vai safar desta.
Mas estes “ses” que eu acabei de mencionar são, muito provavelmente, utópicos. Cá pra mim, isto só lá vai é com taxas, e pesadas, de preferência (mais pesadas do que o preço da gasolina) para quem cometer atentados contra o ambiente, sejam novos (as fraldas descartáveis usadas pelos inocentes e fofos bebés são das coisas que mais polui, pois não são recicláveis, ao passo que as fraldas à “moda antiga” têm muito mais benefícios – além disso, o ambiente e as carteiras dos pais agradecem), velhos (têm a mania de escarrar para o chão, o que não é nada ecológico!) ocidentais (= cambada de terroristas ambientais), orientais (a nossa sorte é que a maior parte dos chineses é pobre e anda de bicicleta, senão estaríamos seriamente tramados, embora já comece a haver uma classe média emergente na China com dinheiro para comprar carro), particulares, empresas, you name it!
*
A religião católica tem um conceito que, para mim, verdadeira herege, é difícil de entender, pelo menos nos termos em que os católicos o entendem, que é o conceito de pecado. Pecado, na minha óptica “desvirtuada” e “desvirtuadora”, não é foder como se não houvesse amanhã; não é comer uns chocolates a mais que a conta (se bem que eu nem gosto de chocolate, mas compreendo a tortura que é para quem gosta); não é ter inveja ou cobiçar o alheio; não é ser forreta; não é dormir até tarde ao fim de semana e não apetecer fazer nenhum; não é ficar lixado/a da vida, não importa o motivo; não é gostar de me ver com um vestido novo, giro, que até me fica bem (é raro achar isto, mas não interessa); pecado é, neste caso, fazer coisas que prejudicam o sagrado planeta Terra que, segundo os católicos, Deus – exímio construtor (tenho de Lhe tirar o chapéu, admito) e gajo “muita” generoso – nos “deu” para habitar.

12 comentários:

J. Maldonado disse...

A temática abordada neste post é bastante pertinente. :)
De facto se não começarmos agora a cuidar do nosso planeta, os nossos vindouros herdá-lo-ão completamente arruinado. Porém, gostaria de fazer alguns reparos em relação ao que expuseste:
O progresso é inevitável, por isso não o podemos travar. Ou seja, a industrialização é imprescindível para que a humanidade alcance bem-estar. Não podemos ser ecologicamente radicais a ponto de considerá-la "satânica", senão caímos no extremismo ideológico do Unabomber, um célebre eco-terrorista da década passada, o qual achava que deviamos acabar com a tecnologia e voltarmos à primitiva comunhão com a Natureza.
A poluição é uma consequência da ganância do sistema capitalista.
É possível ter-se indústrias limpas de modo a reduzirem as emissões de CO2, mas aí é que está o busílis da questão: se se investir nelas gasta-se demasiado dinheiro, e o capitalismo não se compadece com isso, pois visa o lucro fácil, logo, está-se a cagar para o ambiente...
Também é possível investir-se em energias alternativas de modo a reduzir-se a dependência dos combustíveis fósseis, mas, tal como disse antes, isso custa caro, e o Grande Capital não está disposto a abdicar dos seus lucros astronómicos.
A culpa de tudo isto não é do progresso industrial, é da ambição desmedida do sistema capitalista, que não olha a meios para atingir os seus fins.
Também é verdade que temos um quota-parte de culpa, pois não cultivamos hábitos ecológicos que visem atenuar o actual estado de degradação ambiental.
É tudo uma questão de consciência, a qual terá que ser amplamente sensibilizada e educada pelas devidas instituições sociais, como a família, a escola, o Estado, as associações, etc.
Quanto ao conceito de pecado inererente à doutrina católica:
Infelizmente o cristianismo herdou o complexo de culpa judaico, por isso a ideia de pecado tornou-se uma obssessão da teologia cristã.
Os cristãos vivem preocupados com a salvação do outro mundo, mas esquecem-se que é neste mundo que se devem salvar....
L' enfer c'est les autres, disse Sartre. É verdade, o mundo actual expressa-o: guerras civis, fome, trabalho infantil, desigualdades sociais... Existe um inferno pior que esse? Sinceramente duvido...
E fico por aqui, pois já começaste a bocejar e não te vou cansar mais a beleza com tanta filosofia da treta... LOL

Fernanda disse...

Epá, eu gostava tanto de ir num cruzeiro, eu via o Barco do Amor, fazia parte do meu imaginário...mas acho o conceito muito estúpido, realmente, é cagar lixo na água, ficar a flutuar dias a fio com um bando de elitistas cheios de papel (até se joga golfe nos barcos!). Xii...deve ser tipo Holmes Place mas em barco!!

Anónimo disse...

Barbaridades.
Houve sempre gente, mais rica, mais estúpida, mais qualquer coisa. Mas a verdade é que existe sempre os velhos do Restelo, que falam barbaridades, enquanto vivos não têm a capacidade de construir Nada. Porque se alguma vez tivessem que construir alguma coisa quer que seja, afundavam todos ao redor com as suas embriaguezes, como certas pessoas fundamentam que para o Porto de Lisboa, se devesse torna em restaurantes e tascas em vez de um porto de marinheiros. Aonde está a ética desta gente realmente pobre de espírito, talvez se venderam à opus die, e servem a fantasia de alguém para a fazer propaganda, para as pessoas estúpidas que sonham em ganhar uma viagem para um local que não existe, seja o céu ou Marte ou outra galáxia. Na maioria das vezes são iletradas, vêm um gráfico com um descida acentuada e dizem logo que o mundo vai explodir, e se vêm outro com um descida ligeira pensam que vai tudo bem, Mas a questão é que nem lêem se da descida acentuada é na ordem de 0,001 e o ligeiro é na ordem de 1000. Querem ter computadores, telemóveis, vibradores e acham que as Energia renováveis conseguem produzir isso, as Energias renováveis nem conseguiria produzir energia para manter a comida fresca no congelador. Como um químico me disse: mais vale produzir energia da nossa merda. Igualdade seria as pessoas não se referirem a outros povos, como uns coitados, porque desde do ensino mais básico é ensinado que este povo/cultura é que fez com que os outros não fizeram nada ou que copiaram ou que são hereges. Mas serão as pessoas realmente capazes de aprender, de mudar de pensamento ou religião para que se viva, em vez de matarem.

Bruno Miguel Pinto disse...

Isto só vai lá com ecoterrorismo, camarada! Bombas nas fábricas que poluem! Ecologista de todo o mundo, uni-vos!

Agora a sério, talvez um grande investimento em educação ambiental obviasse alguns dos problemas de que falas. E talvez o petróleo se mantenha caro, o que também ajudaria ao desenvolvimento de "energias alternativas", algo que já devia ter sido feito há mais tempo...

E, se nada disto resultar, ecoterrorismo, camaradas! A luta continua! A luta continua!

J. Maldonado disse...

Ao anónimo:
O teu confuso arrazoado é de bradar aos céus... :D Manca-te, pá!
Será que achas que o actual estado de degradação ambiental prevalecente em todo o planeta é mera fantasia?! Tens que te informar melhor, lendo artigos especializados em questões ambientais, e também consultando os relatórios e estatísticas de ONG's nacionais e internacionais...
Tenho a vaga sensação de que confundiste energias renováveis com bio-combustíveis. É que estes são uma pequena parcela daquelas, por isso não faz sentido o teu cepticismo em relação às referidas energias, uma vez que ainda não estão devidamente exploradas...
Vá lá, não sejas como os velhos do Restelo... ;)

Patrícia T. disse...

Maldonado:

Tens toda a razão no que diz respeito ao sistema capitalista, mas, como dizes e muito bem, cada um de nós também tem uma quota parte de responsabilidade e não podemos mandar as "culpas", única e exclusivamente, pra cima do capitalismo.

E focaste o ponto chave desta questão: a educação. É claro que não podemos, nem devemos, "parar" o progresso (mal de nós se ainda se lavasse roupa à mão, por exemplo :P), mas podemos ter alguns cuidados, e se cada um contribuir... "grão a grão enche a galinha o papo", n'est-ce pas?

Bj e obrigada pelos teus (sempre) instrutivos comentários que não me cansam a beleza ;)

Patrícia T. disse...

Amiga:

Peço desculpa por ter deitado por terra o teu sonho de viajar numa réplica do Barco do Amor, mas eu sei que tu me perdoas!

Adorei a comparação "deve ser tipo Holmes Place mas em barco!!" (esta só nós é que percebemos ;)

Bj grd e boa viagem!

Patrícia T. disse...

Caro Anónimo:

Eu não disse barbaridades, mas sim verdades/realidades/factos. A maneira como o disse é que pode ser questionável, mas estou-me a cagar pra isso. Felizmente, hoje em dia, podemos pensar e dizer o que muito bem nos apetece e é muito salutar que haja pontos de vista contrários aos nossos.

Não me considero estúpida, nem "Velho do Restelo", aliás não tenho nada contra o progresso, porque normalmente ele beneficia, e muito, a nossa vida, embora à custa de outros povos "coitados", porque, como muito bem sabe, meio mundo vive à custa da exploração dos recursos naturais e "humanos" do outro meio. Tenho a noção que é difícil alterar este estado de coisas, no entanto, podemos sempre minorar os efeitos desse "progesso".

Tomando a liberdade de usar as suas próprias palavras, espero que as pessoas sejam "capazes de aprender, de mudar de pensamento" e tomar consciência de algumas realidades e dar o seu contributo para tratar um pouco melhor este planeta, pois é o único que temos para nós e para as gerações futuras.

Patrícia T. disse...

Camarada Bruno:

Gosto do teu radicalismo! Gosto de pessoas que se agarram com unhas e dentes aos seus princípios e às suas convicções, sem ter medo de nada, nem de ninguém!

Se eu fosse uma "ocidental rica", contratava-te para liderar uma campanha de educação ambiental, dentro e além fronteiras, mas sou apenas uma "rica ocidental" ;)

Bjs

Bruno Miguel Pinto disse...

Esperemos, então, que esse dia em que me possas contratar (tu ou outra pessoa) venha depressa, de preferência antes que eu morra de fome ou vá trabalhar para uma caixa de supermercado... (nada contra quem o faz, mas eu não gostaria de o fazer)

Rick Deckard disse...

O mal é escreverem-se essas ideias, depois comentá-las e todos parecerem ter vontade de fazer algo para mudar o estado das coisas. Mas não. Dormimos descansados porque já escrevemos uma coisa gira e até conseguimos que outros nos dêem razão. Como é bom blogar. Anyway, concordo com tudo o que li. Sinto-me uma melhor pessoa. Já posso ir dormir descansado...

Patrícia T. disse...

Rick Deckard:

A autora deste blog não encara o acto de "blogar" como uma coisa "gira" (não é a filosofia deste blog e muito menos a minha filosofia de vida fazer algo só porque é "giro"). Este blog procura ter uma vertente pedagógica, didáctica, chamar a atenção para certas questões, debater ideias (e se as ideias alheias questionarem as "da casa", tanto melhor)!

O objectivo deste post em particular era precisamente o contrário, ou seja, não deixar ninguém "descansado" ou pelo menos indiferente perante um problema que nos afecta a todos. Tens razão, não devemos ficar só pelas palavras e passarmos efectivamente aos actos, mas isso cabe a cada um de nós...

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Things that I love: friendship, kindness, devotion, learn new things, meet new people, a nice conversation, a good laugh, a cup of ginger tea, feel the sun in my face, contemplate the sea. Things that inspire me: people and their achievements*, quotes that bring light into my life*, music, poetry, new beginnings. *including mine