sábado, setembro 27, 2008

"Poliamor - amor sem tabus"
Este é o título de um artigo muito interessante que li há tempos numa revista, publicada mensalmente, que está a celebrar 20 anos de existência em Portugal.
O Poliamor é um "conceito" recente em Portugal, porque, na verdade, ele já vem desde os anos 60 do século passado, momento em que se questionaram os papéis tradicionais de género. Consiste na "substituição do primado da monogamia absoluta (como mandamento), pelo mandamento da honestidade. Pode fazer-se o que se quiser desde que seja consentâneo e não magoe ninguém. No Poliamor não existem receitas de tipos de relacionamentos, temos de as inventar". Quem o diz é Antidote (nick cibernético), uma das pessoas que contribui para o blog http://laundrylst.blogspot.com/ que eu recomendo vivamente, porque não há pior coisa na vida do que ficarmos fechados nos "nossos" mundos "perfeitos", que fazem todo o sentido e que têm todo o "mérito", sendo que tudo o que não se enquadre nesse "esquema" de vida, é (socialmente) inaceitável. Há outras realidades para além da "nossa", tão válidas quanto a "nossa", e que devemos respeitar e até aceitar (desde que se garanta o respeito pela integridade física e psicológica das pessoas, não vejo por que não). Aceitar o que é "diferente" de nós é um sinal de maturidade e de verdadeira humanidade.
No Poliamor é possível amar várias pessoas ao mesmo tempo. Os modelos possíveis são vários: pode existir uma relação em que todos os parceiros são primários, ou uma relação que se baseia numa rede de secundários, ou ainda uma em que existe um primário e vários secundários.
Quanto às "vantagens" do Poliamor, destaca-se o facto de não se "forçar uma relação nos moldes de um amor absoluto". (...) "O ser tudo - presente no amor monogâmico romântico - é uma tarefa sobre-humana que exige um coração poeta, disposto ao sofrimento e muito nobre".
Como se gere o ciúme neste tipo de relações amorosas? Segundo Antidote, há vários níveis de ciúme. "Um, muito primário, que corresponde ao sentimento de posse. (...) Outro é insegurança: medo que o parceiro(a) conheça alguém e desapareça. Mas a promessa de amar até à morte não faz qualquer sentido. O amor (...) não se consegue controlar. (...) Um outro tipo de ciúme é quando sentimos que somos passados(as) para trás".
Depois de ler todo o artigo/entrevista, há uma ideia que, a meu ver, importa realçar, que é esta: "o Poliamor é uma opção de vida válida e não um grupo de gente moralmente duvidosa que quer destruir a instituição casamento".
De facto, o modelo tradicional de relacionamento entre os seres humanos talvez esteja ultrapassado; talvez tenhamos chegado a um estádio da evolução humana em que todos os modelos e váriáveis são possíveis e aceitáveis, desde que se respeite as pessoas. Por que é que toda a gente tem de se casar? Por que é que toda a gente tem de ter filhos? Por que é que uma pessoa não pode optar por ser solteira, sem ser recriminada? Deixemo-nos de hipocrisias e o mundo será um lugar muito melhor para se viver, sem haver pessoas que vivem verdadeiros dramas interiores, apenas porque não se conseguem encaixar no modelo tradicional (que tem muitas falhas) e, por isso, são infelizes e tornam infelizes todos à sua volta...
Que é o homem?
Quem é que já não pensou, pelo menos uma vez na vida, nesta questão? Podemos tentar responder por nós próprios e/ou podemos procurar a explicação com a qual nos "identificamos" mais. Eu encontrei uma em Ortega y Gasset (1883-1955) com a qual me identifico bastante, até porque ele coloca um grande ênfase no "drama" que é o homem e a sua vida e na "luta" que temos de travar com nós mesmos para nos realizarmos. Aqui ficam uns excertos que ilustram a concepção da existência humana do filósofo espanhol.
«El hombre no es su cuerpo, que es una cosa; ni es su alma, psique, consciencia o espíritu, que es tambíen una cosa. El hombre no es cosa ninguna, sino un drama - su vida, un puro e universal acontecimiento que acontece a cada cual y en que cada cual no es, a su vez, sino acontecimiento» (História como Sistema, 1941, VI, 32).
«El hombre es el ente que se hace a si mismo» (ibidem, 33).
«Vida significa la inezorable forzosidad de realizar el proyecto de existencia que cada cual es. Este proyecto en que consiste el yo no es una idea o plan ideado por el hombre y libremente elegido. Es anterior a todas las ideas que su inteligencia forme, a todas las decisiones de su voluntad. (...) Nuestra voluntad es libre para realizar o no ese proyecto vital que últimante somos, pero no puede corregirlo, cambiarlo, prescindir de él o sustituirlo. Somos indeleblemente ese único personaje programático que necesita realizarse. El mundo en torno o nostro próprio carácter nos facilitan ou dificultan más o menos esta realización. La vida es constitutivamente un drama, porque es la lucha frenética con las cosas y aun con nuestro carácter por conseguir ser de hecho el que somos en proyecto» (Goethe desde dentro, 1932, IV, 400).

sábado, setembro 20, 2008

Uma Questão de Confiança
Paris, ”uma cidade onde andar na rua é como andar numa universidade”. Esta frase proferida por Maria Lamas deixou-me a pensar. Como será andar noutras cidades? Roma, uma cidade onde andar na rua é como andar num museu ao ar livre, ao vivo e a cores, apesar dos turistas orientais, que são quase tantos como as "vespas". Atenas, uma cidade onde andar na rua é como andar numa biblioteca, não de livros, mas de monumentos que nos contam muitas histórias. E Lisboa? Como será andar em Lisboa? Hoje em dia é como andar em Copacabana mas sem as palmeiras e a água de côco, é como andar na Costa do Marfim, mas sem clima tropical, é como andar na Índia, sem Taj Mahal, é como andar na Ucrânia, sem os Montes Carpátos. Assim, eu diria que andar em Lisboa é como andar por vários países e culturas diferentes, todos no mesmo espaço, mas não é, definitivamente, como andar numa universidade. Na melhor das hipóteses, é como andar numa escola de 3º ciclo e se for até ao 9º ano, é uma sorte!
À parte isto, e voltando à Maria Lamas...
Esta mulher teve um percurso de vida impressionante. Foi uma das primeiras mulheres jornalistas profissionais e pautou a sua vida pela defesa dos direitos humanos, em geral, e pela emancipação da mulher, em particular. Defendia a igualdade das mulheres "baseada na educação e na independência económica, através do exercício de uma profissão ou de um ofício". Escreveu uma obra de referência, A Mulher no Mundo (1952), organizou exposições, participou em congressos e conferências pelos Direitos da Mulher e pela Paz.
Não consigo perceber por que razão tendo nós em Portugal mulheres de tão alto gabarito em tantas áreas, o seu papel na cena política portuguesa seja tão apagado, quase de figurante... Tirando a Maria de Lurdes Pintasilgo, não me ocorre mais nenhum nome digno de nota. Os meandros da política portuguesa estão confinados ao poder masculino (seja ele hetero ou homo, o que não interessa agora para o caso). É tempo de as mulheres tomarem as rédeas da liderança na política, porque os homens já deram tudo o que tinham a dar (e não foi lá grande coisa). Atenção, não estou a dizer para votarmos em massa na Manuela Ferreira Leite nas próximas eleições, porque se ela for a única mulher candidata, ficamos na mesma ou pior, pois apesar de ser mulher, a sua maneira de fazer política é completamente "masculina" e não é isso que se pretende nem se procura...
Procura-se uma mulher que faça política à maneira feminina, isto é, com ponderação, com sensibilidade, com discursos claros e acessíveis e não uma verborreia de termos técnicos que ninguém entende ou um sucessivo enunciado de medidas "fantasma" que são prometidas, porém nunca cumpridas.... Chega de promessas e de palavras vãs (só para ganhar votos), precisamos de acções! Os homens são muito bons em palavreado, mas quando chega a hora h, normalmente são uma desilusão...
Ponham os olhos nos israelitas. Esta semana foi eleita líder do partido Kadima a ministra dos Negócios Estrangeiros Tzipi Livni, que afirmou há tempos, quando anunciou a sua candidatura: "Quero ser primeiro-ministro e ajo nesse sentido, a fim de proceder a correcções e mudanças (...) porque a opinião pública já não confia nos políticos e é preciso restaurar esta confiança".

terça-feira, setembro 09, 2008

O (Verdadeiro) Pecado
Hoje, no caminho para o trabalho, que faço sempre de transporte público, deparei-me com um navio gigantesco, com cerca de 17 andares (como ouvi um turista francês dizer), atracado no Cais da Rocha, em Lisboa. Olhei para aquele “prédio flutuante” enorme e para as chaminés que estavam no topo (contei 4, pelo menos) e pensei: “A poluição que esta merda não deve fazer! A quantidade de CO2 que esta merda não deve emitir para a atmosfera – já sem falar na poluição dos mares – para uma cambada de cabrões ocidentais fazerem férias num cruzeiro com tudo e mais alguma coisa a bordo: piscinas, casinos, restaurantes, salas de espectáculo, etc, etc, etc. Essas coisas também existem em “terra”, por isso não consigo compreender o fascínio… Será que é por só se ver mar durante não sei quantos dias a fio (sim, porque é pouco o tempo que se passa nas cidades que fazem parte do itinerário)? Será que é pela possibilidade de se enjoar e vomitar até as próprias tripas? Será que é pela adrenalina de “viver” uma tempestade ou o navio chocar contra um iceberg (quem manda a Deus pôr merdas dessas a flutuar no meio dos oceanos? Isso só atrapalha os “cruzeiros”! O que vale é que ao ritmo que os seres humanos poluem o planeta, daqui a pouco tempo esses blocos de gelo deixarão de ser incómodo), tal como aconteceu com o famoso “Titanic”, o barco “inafundável”? Ou será que é, pura e simplesmente, uma questão de exibicionismo, mostrar que se tem dinheiro (muito dinheiro) para gastar numas férias de luxo sobre a água?
E não pensem que estou a dizer isto por ser uma ressabiada que tem inveja de quem pode fazer este tipo de férias! Se me saísse o euromilhões, mais depressa eu gastava o dinheiro a comprar esses navios todos que andam por aí e desmantelava-os. Mas depois ia uma data de gente para o desemprego (as pessoas que constroem os navios, as que lá trabalham, os operadores turísticos que vendem as “viagens de sonho”, as que trabalham nos portos que recebem aquelas bisarmas) e a vida já está tão difícil para o comum dos mortais!
O que é facto é que o ser humano só pensa no seu bem-estar e conforto, nas experiências que pode acumular, nas fotos que pode ostentar aos amigos e até ao mundo inteiro, se quiser, através da internet… Mesmo que isso signifique destruir o planeta, mesmo que isso provoque doenças, como o cancro, por exemplo, devido à elevada taxa de poluição que todos os dias respiramos e ingerimos sob todas as formas (como os alimentos que comemos e a água que bebemos).
Se cada um de nós contribuísse com pequenos e simples gestos, a saber: - fazer a separação do lixo para reciclagem; - tomar banhos curtos e fechar a torneira enquanto se está a ensaboar (quem lava louça à mão também deve ter esse cuidado e aproveitar a água para pôr na casa de banho, por exemplo); - EVITAR OS SACOS DE PLÁSTICO (e isto ponho em letras garrafais, porque são uma praga! Reciclem os sacos – agora há uns nos supermercados mesmo para esse efeito ou “roubem” às vossas avós os carrinhos de rodinhas que elas usam para ir às compras); - evitar gastar energia desnecessariamente (luzes acesas por toda a casa ou no local de trabalho… Se tiverem a sorte de viver numa casa ou de trabalhar num local com muita luz natural, evitem usar a luz eléctrica); - and so on (podia ficar aqui o dia todo, mas cabe a cada um ver em que medida pode contribuir para baixar os níveis de emissão de CO2).
Se cada um de nós estivesse disposto a abdicar de certas “regalias”, como ir tomar o café ou comprar o pão de carro, por exemplo (já nem falo em ir de transportes para o trabalho, porque isso é “coisa de pobre”, de gente da “classe operária”), talvez o planeta durasse mais uns anitos, mas assim, pelo andar da carruagem, só quem tiver dinheiro para emigrar para Marte (por que é que acham que os americanos andam lá metidos? Eles podem ter muitos defeitos, e são dos que mais poluem, todavia, não são parvos) é que se vai safar desta.
Mas estes “ses” que eu acabei de mencionar são, muito provavelmente, utópicos. Cá pra mim, isto só lá vai é com taxas, e pesadas, de preferência (mais pesadas do que o preço da gasolina) para quem cometer atentados contra o ambiente, sejam novos (as fraldas descartáveis usadas pelos inocentes e fofos bebés são das coisas que mais polui, pois não são recicláveis, ao passo que as fraldas à “moda antiga” têm muito mais benefícios – além disso, o ambiente e as carteiras dos pais agradecem), velhos (têm a mania de escarrar para o chão, o que não é nada ecológico!) ocidentais (= cambada de terroristas ambientais), orientais (a nossa sorte é que a maior parte dos chineses é pobre e anda de bicicleta, senão estaríamos seriamente tramados, embora já comece a haver uma classe média emergente na China com dinheiro para comprar carro), particulares, empresas, you name it!
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A religião católica tem um conceito que, para mim, verdadeira herege, é difícil de entender, pelo menos nos termos em que os católicos o entendem, que é o conceito de pecado. Pecado, na minha óptica “desvirtuada” e “desvirtuadora”, não é foder como se não houvesse amanhã; não é comer uns chocolates a mais que a conta (se bem que eu nem gosto de chocolate, mas compreendo a tortura que é para quem gosta); não é ter inveja ou cobiçar o alheio; não é ser forreta; não é dormir até tarde ao fim de semana e não apetecer fazer nenhum; não é ficar lixado/a da vida, não importa o motivo; não é gostar de me ver com um vestido novo, giro, que até me fica bem (é raro achar isto, mas não interessa); pecado é, neste caso, fazer coisas que prejudicam o sagrado planeta Terra que, segundo os católicos, Deus – exímio construtor (tenho de Lhe tirar o chapéu, admito) e gajo “muita” generoso – nos “deu” para habitar.

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Things that I love: friendship, kindness, devotion, learn new things, meet new people, a nice conversation, a good laugh, a cup of ginger tea, feel the sun in my face, contemplate the sea. Things that inspire me: people and their achievements*, quotes that bring light into my life*, music, poetry, new beginnings. *including mine