sábado, setembro 27, 2008

Que é o homem?
Quem é que já não pensou, pelo menos uma vez na vida, nesta questão? Podemos tentar responder por nós próprios e/ou podemos procurar a explicação com a qual nos "identificamos" mais. Eu encontrei uma em Ortega y Gasset (1883-1955) com a qual me identifico bastante, até porque ele coloca um grande ênfase no "drama" que é o homem e a sua vida e na "luta" que temos de travar com nós mesmos para nos realizarmos. Aqui ficam uns excertos que ilustram a concepção da existência humana do filósofo espanhol.
«El hombre no es su cuerpo, que es una cosa; ni es su alma, psique, consciencia o espíritu, que es tambíen una cosa. El hombre no es cosa ninguna, sino un drama - su vida, un puro e universal acontecimiento que acontece a cada cual y en que cada cual no es, a su vez, sino acontecimiento» (História como Sistema, 1941, VI, 32).
«El hombre es el ente que se hace a si mismo» (ibidem, 33).
«Vida significa la inezorable forzosidad de realizar el proyecto de existencia que cada cual es. Este proyecto en que consiste el yo no es una idea o plan ideado por el hombre y libremente elegido. Es anterior a todas las ideas que su inteligencia forme, a todas las decisiones de su voluntad. (...) Nuestra voluntad es libre para realizar o no ese proyecto vital que últimante somos, pero no puede corregirlo, cambiarlo, prescindir de él o sustituirlo. Somos indeleblemente ese único personaje programático que necesita realizarse. El mundo en torno o nostro próprio carácter nos facilitan ou dificultan más o menos esta realización. La vida es constitutivamente un drama, porque es la lucha frenética con las cosas y aun con nuestro carácter por conseguir ser de hecho el que somos en proyecto» (Goethe desde dentro, 1932, IV, 400).

10 comentários:

J. Maldonado disse...

Ortega y Gasset é uma das minhas principais referências filosóficas, pois tem uma concepção existencialista da realidade humana. :)
De facto a existência humana assenta na historicidade. Ou seja, existimos na medida em que deixamos "rasto" no mundo.
A nossa vida é composta pela nossa história pessoal, i.e., o conjunto de factos passados e presentes que vão definindo a nossa pessoa. Eu sou aquilo que vivi antes e vivo agora; é o somatório de todas as minhas acções que me identifica enquanto ente, consolidando a minha individualidade. Logo, somos o resultado das nossas circunstâncias.
Gostei imenso destes excertos.
Parabéns pelo teu bom gosto filosófico, pois despertaste-me uma certa nostalgia de situações que vivi in other lifetime...

Bruno Miguel Pinto disse...

No filme "Luzes da Ribalta", Chaplin diz que a vida é desejo. Eu também acho. Somos frutos do desejo dos nossos pais e desde que nascemos que estamos desejosos de satisfazer os nossos próprios desejos (não apenas um "proyecto vital", mas uma porrada de desejos, uns seguidos dos outros)...

Patrícia T. disse...

Bruno:

Infelizmente, eu não tenho uma visão tão romântica da "coisa"... Para já, nem todos somos frutos do desejo dos nossos pais (muitos de nós somos meros "acidentes de percurso"); por outro lado, pode ser altamente frustrante e desgastante essa procura pela satisfação dos nossos desejos...

Vanessa disse...

Creio que a vida é sempre um projecto que, quer queiramos ou não, é 1 projecto que não é nosso, (dos nossos pais quandos somos desejados), um acaso (por vezes feliz e outras infeliz,dependendo se fomos desejados, queridos ou mesmo não esperados, bem-vindos). A vida, é a meu ver, fundamentalmente construção:de nós mesmos, do nosso (pequeno) mundo (família, amigos, rede social de trabalho, lazer, etc). Nem sempre essa constante contrução é levada como desejamos ou até como queremos; nem tudo o que queremos é concretizado, pode é, mais uma vez tentar ser construído. O que creio ser importante é a ideia de construir, de fazermos algo por nós, pelos os que amamos e até mesmo por aqueles que não nos são tão próximos (por civismo e respeito pelo Outro)e sobretudo sempre que o baralho de cartas que é a vida se desmorona, mais que tentarmos erguer-nos de novo, é sabermos reconhecer que somos os responsáveis pelas nossas acções. A humildade é, para mim, a via mais segura para uma construção sólida da vida.

Bruno Miguel Pinto disse...

Olá, Patrícia: Mesmo que sejamos acidentes de percurso, é do desejo que nascemos (o desejo entre os pais, era desse que eu falava). E mesmo que "altamente frustrante e desgastante" que seja essa satisfação de desejo, a questão aqui é que geralmente é o desejo que nos move... A não ser que sejamos budistas e o tentemos reduzir a níveis mínimos, para não sofrer...

Patrícia T. disse...

Olá, Bruno!

"é o desejo que nos move": sou obrigada a discordar. Creio que não é o desejo que nos move, mas sim o interesse: de não ficarmos sozinhos no mundo, de termos alguém que cuide de nós, de sermos reconhecidos, de sermos bonitos, ricos, famosos :P Enfim, há vários "tipos" de interesse que movem os seres humanos e não é que isso seja mau, alguns "interesses" até são legítimos... Talvez escreva um post a desenvolver esta ideia ;)

Bruno Miguel Pinto disse...

No contexto da tua resposta, qual é a grande diferença entre desejo e interesse? Desejo/interesse "de não ficarmos sozinhos no mundo, de termos alguém que cuide de nós, de sermos reconhecidos, de sermos bonitos, ricos, famosos"

Patrícia T. disse...

A meu ver, a grande diferença entre desejo e interesse é que no desejo, a pessoa tem vontade de atingir determinado objectivo, ao passo que no interesse, a pessoa procura tirar proveito (de algo ou de alguém) para atingir determinado objectivo.

J. Maldonado disse...

Vou apelar à serenidade, por isso coloco o seguinte ponto de ordem:

1.
"(...) por outro lado, pode ser altamente frustrante e desgastante essa procura pela satisfação dos nossos desejos..."

A dialéctica da nossa existência é assim mesmo: um paradoxo. Ou seja, oscilamos sempre entre a infinidade das nossas aspirações e a finitude das possibilidades.
Somos movidos pela utopia, pelo que ainda não é, por isso andamos sempre numa constante luta no sentido de nos transcendermos. Temos fé em algo que não conseguimos explicar, só sentir, i.e., no devir. Acreditamos sempre que iremos melhorar. É essa a nossa principal motivação nesta fugaz existência.


2.
"(...) no desejo, a pessoa tem vontade de atingir determinado objectivo (...)"
Essa definição necessita duma achega:
Essa vontade tem que ser realista. Não podemos ter vontade de atingir objectivos que estão para além das nossas possibilidades mediatas e imediatas.


Não sei porquê, noto em ti um pessimismo exacerbado na tua explanação.
A vida por vezes tem fases menos boas, mas o mais importante é acreditarmos no Ainda-Não, parafraseando E. Bloch... :)

Bruno Miguel Pinto disse...

Eu acredito bué no "Ainda-Não" do E. Bloch, mas mais ainda no "Talvez Mais Daqui a Bocado" de E. Docker pela dimensão temporal mais concreta que dá à sua noção de utopia...

Acerca de mim

A minha foto
Things that I love: friendship, kindness, devotion, learn new things, meet new people, a nice conversation, a good laugh, a cup of ginger tea, feel the sun in my face, contemplate the sea. Things that inspire me: people and their achievements*, quotes that bring light into my life*, music, poetry, new beginnings. *including mine