quarta-feira, outubro 25, 2006

Post Scriptum
Se as emoções, os sentimentos, enfim, a componente psicológica/emocional é o que faz de nós seres humanos, também não deixa de ser verdade que é esse o nosso "calcanhar de Aquiles"... Nesse aspecto, a Natureza é imperfeita, pois se, por um lado, nos prepara para sobreviver fisicamente nas condições mais adversas, por outro lado, não nos apetrecha com nenhuma arma para combater as "adversidades psicológicas": a rejeição, a indiferença, a violência (psicológica), a crueldade, a desilusão, a injustiça, a frustração, a perda (de algo ou de alguém que amamos), a solidão...
Perante esta lacuna (imperdoável) da Natureza, a todo o ser humano devia ser implantado à nascença um chip que fosse uma espécie de manual (ilustrado, de preferêcia) que nos ensinasse a lidar com essas "adversidades psicológicas", evitando assim o sofrimento e o desespero com que somos confrontados em algum (ou alguns) momento(s) da nossa vida...
[Era bom, não era? Que houvesse um livrinho que nos dissesse como lidar com a pessoa x que nos ofendeu, a pessoa y que nos magoou...]
Porém, por muito "negra" que se apresente, por vezes, a realidade, por muito más que sejam as pessoas que nos rodeiam (sim, elas existem mesmo, não é só nos contos infantis ou nos filmes) por muito absurdo que seja este mundo onde vivemos, não podemos deixar-nos abater por isso, mas prosseguir em frente, porque tudo aquilo que não nos destrói, só nos deixa mais fortes...

domingo, outubro 22, 2006

Não posso deixar de exprimir a minha mais profunda indignação perante as palavras proferidas pela Igreja Católica portuguesa a propósito do problema do aborto (sim, porque é de um problema que se trata, nem que seja de saúde pública)... Será que eu ouvi mal ou os seus representantes disseram, e passo a citar, que "a mulher não tem direito ao aborto"?
A sensação que me dá é a de que regressámos ao tempo da escravatura em que os escravos não tinham o direito de ser livres ou ao tempo da ditadura do Estado Novo em que as pessoas não tinham o direito de exprimir livremente a sua opinião e de pensar pela sua própria cabeça...
[Está-me cá a parecer que, às vezes, as pessoas não medem o alcance das suas palavras...]
O que está aqui em causa não é discutir se é certo ou se é errado, porque todos sabemos que pelo menos correcto não é (mas há muita coisa que se faz contra a vida humana neste mundo, inclusive neste país, que não é correcta e não vejo ninguém manifestar-se em relação a isso)... Essa discussão não leva (e não levará) a lado nenhum e entretanto há casos concretos, há pessoas reais aí fora que têm um problema para resolver ao qual não podemos fechar os olhos, porque, sejamos claros e deixemo-nos de hipocrisias: 1º nunca se deixará de praticar o aborto, aqui em Portugal ou onde quer que seja; 2º quem tem dinheiro vai fazer o aborto a clínicas em Espanha, quem não tem usa agulhas de tricotar ou vai ter com "habilidosos" e normalmente o resultado é que essas mulheres/pessoas/seres humanos vão parar ao hospital com hemorragias e muitas vezes já não saem de lá, mas a perda dessa vida humana já não é lamentável, pois não? "Ela que não tivesse feito o filho!", já estou a ouvir as prezadas e os prezados cidadãos com vidas perfeitas e de carácter incólume a proferirem tais palavras...
Se me perguntarem, eu sou apologista da prevenção, de divulgar a informação necessária e ter a certeza que essa informação chega às pessoas, mas por mais informadas que as pessoas estejam (que não estão, pelo menos em determinadas camadas da sociedade), como todos sabemos, o único método 100% seguro é a abstinência, pois já houve casos de mulheres que fizeram laqueação das trompas e mesmo assim engravidaram... Ora, se nem os religiosos a praticam (a abstinência, entenda-se)...
"a mulher não tem direito ao aborto"... O mesmo é dizer que a mulher não tem direito sobre o seu corpo, não tem direito a pensar pela sua cabeça, ou seja, não tem o estatuto de ser humano...
A mulher está ao nível das galinhas, das cadelas ou das vacas, que quando engravidam têm obrigatoriamente as crias, porque assim o determina a Natureza... Nesse caso, eu pergunto: o que distingue, afinal, os seres racionais dos irracionais?
Uma mulher, mesmo que seja jovem, saudável, etc, não deve ser "obrigada" a ter um filho só porque engravidou acidentalmente... Não sei se alguém já pensou nisso, mas a parte psicológica nas pessoas é muito importante e a mulher pode estar preparada a nível físico para ter um filho, mas pode não estar a nível psicológico, por diversos motivos (emocionais, afectivos, ambições profissionais, etc) e são todos legítimos, quer queiramos, quer não...
Acima de tudo, o importante é que se dê oportunidade às pessoas e, neste caso, às mulheres de poderem decidir sobre um assunto muito importante para as suas vidas: a decisão de ter um filho ou não.
Ter um filho é algo que deve ser muito bem equacionado, pois se a maternidade tem muitos aspectos positivos, também tem outros menos positivos, e não esqueçamos que ainda continua a ser mulher a acarretar com a maior parte da responsabilidade de cuidar do filho, aliado ao seu desempenho profissional, à vida doméstica, etc...
O importante é que não façamos como a avestruz que esconde a cabeça debaixo da areia... Este é um problema bem real da nossa sociedade que afecta muitas mulheres, de todas as idades e estratos sociais, mulheres essas que devem ser ajudadas e aconselhadas, em vez de serem julgadas por quem, certamente, também tem telhados de vidro...
Hoje está um dia de chuva como já não acontecia há muito...
Ainda bem que chove assim, pois a água faz muita falta: rega os campos (sedentos desse líquido fértil), o que por sua vez faz com que haja comida para os animais, enche os rios e as barragens, torna as plantas e as árvores mais viçosas, lava as casas, os carros, as ruas e até as almas (é como se esta chuva intensa limpasse as más lembranças que temos incrustradas na nossa memória)!
Da água depende todo o ser vivo. Ela é um bem precioso e todos nós devemos ser responsáveis por poupar água para nós e para as gerações futuras que sem ela não poderão sequer existir...
Quem dera a muitos lugares do mundo que chovesse como chove neste momento aqui... Lá deixaria de existir a fome e a doença que aniquila milhares de seres humanos!
"Change Happens"
Ainda há pouco falei dos amigos e da importância da amizade... Não deixa de ser curioso que este tem sido um ano de muitas e profundas mudanças para mim e para os meus amigos, senão vejamos: uns casaram (mudança muito significativa pelo que eles me contam), outros (que já estavam casados) tiveram filhos (mudança radical na vida de uma pessoa e de um casal pelo o que me foi dado constatar), outros foram viver e trabalhar para outra cidade, outros, que é o meu caso, mudaram de casa, de emprego, de namorado (actualmente, sem namorado), de vida, no fundo, o que é muita mudança num ano só (que ainda nem sequer chegou ao fim), temos de convir...
O mais engraçado é que se, por um lado, todo este processo de mudança assusta um bocadinho, por outro lado, ele era inevitável e, quanto a mim, até necessário...
Chega uma altura nas nossas vidas em que temos de evoluir enquanto pessoas e isso implica por vezes mudanças radicais como as que mencionei. Mudar de casa, por exemplo. No meu caso, essa mudança significou sair de casa dos meus pais e ir viver sozinha, o que muito me apraz por diversos motivos: tenho a liberdade (que nunca tive) de fazer o que quiser, quando, onde e como quiser, sem ter que dar satisfações a ninguém, ou seja, tenho a minha independência enquanto ser humano - se bem que eu sempre fui muito independente (nas minhas ideias e nas minhas acções) e nunca consultei ou pedi opinião/ajuda de ninguém para nada... Por outro lado, isto de viver sozinho tem muito que se lhe diga, pois temos mais responsabilidades (e/ou a outros níveis), passamos mais tempo sozinhos o que nos permite pensar mais sobre nós próprios e conhecermo-nos enquanto pessoas - quem sou eu? Sou assim e assim, tenho esta e aquela característica, gosto de fazer isto e aquilo de determinada maneira, coisas de que eu não me apercebia antes, talvez porque tinha de viver em função dos gostos e dos hábitos de vida de outras pessoas (os meus pais) o que não é necessariamente mau, mas de certa forma "castrador", porque não me permitia conhecer a mim própria...
Acho que é importante conhecermo-nos bem a nós próprios, conhecermos os nossos gostos, as nossas características, as nossas "manias", "pancas", como quiserem chamar (eu, por exemplo, tenho a mania das limpezas e da comida saudável, sem gordura vegetal hidrogenada), as nossas qualidades e os nossos defeitos (ninguém é perfeito, convençam-se disso de uma vez por todas, e ainda bem, porque senão este mundo seria o tédio total com tanta perfeição por aí espalhada). É bom estarmos conscientes de todas estas coisas para que depois possamos conviver com os outros que é uma tarefa deveras complicada (isto será tema de outro post, com certeza)...
Mas voltando às mudanças...
Mudar de emprego é, por vezes, necessário, não só para evoluirmos nas nossas capacidades, mas também para nos livrarmos de más influências ou de míseros ordenados (no meu caso nunca foi por ter um chefe que me fazia a vida negra)!
Mudar de namorado, ou melhor, terminar uma relação, isso já é uma questão mais complexa... Tudo o que envolva a parte afectiva é sempre difícil e doloroso, sobretudo quando chega ao fim, mas há que ter a coragem de admitir que as coisas não estão bem e agir em conformidade, respeitando sempre as pessoas (isso é muito importante). Sobretudo, não devemos deixar as situações arrastarem-se e não sermos sinceros com os outros (nem connosco próprios). É muito simples (é claro que digo isto de forma irónica, mas no fundo é mesmo assim): se duas pessoas já não se fazem felizes uma à outra o melhor é assumirem esse facto para terem oportunidade de ser felizes com outra pessoa... Mas, quando se toma uma decisão destas (que mexe, muito, com os afectos) deve-se fazê-lo, repito, sem faltar ao respeito e sem magoar os outros (ou o menos possível) nem que para isso se tenha de esperar pelo momento mais adequado (que não coincide necessariamente com a nossa vontade)...
2006 vai ficar sem dúvida "marcado" no calendário das minhas memórias (para o bem e para o mal).
"A minha inconstância" é o título deste (meu) blog, fresquinho, acabadinho de ser criado!
Identifico-me muito com a palavra "inconstância", ou melhor, acho que ela define muito bem a minha "pessoa"...
Do latim inconstantia, significa falta de constância (qualidade do que é constante), instabilidade, volubilidade, mutabilidade, leviandade, infidelidade, facilidade em mudar de opinião, de afectos, de processos, versatilidade...
Eu não sou nada constante - hoje interesso-me por uma coisa, amanhã já acho interessante outra (atenção, que não me estou a referir a pessoas) -, sou muito instável em termos de humor e estado de espírito (se bem que às vezes isso também é influenciado por questões hormonais), tenho uma (terrível) tendência para a mudança - não gosto de estar muito tempo a fazer a mesma coisa ou no mesmo sítio (quando as coisas começam a ficar muito "certinhas", ou muito monótonas, soa o alarme do "está na altura de mudar", excepto, mais uma vez, no que se refere a pessoas) -, por vezes, sou leviana, no sentido em que sou precipitada a dizer e/ou a fazer certas coisas, porém, sou muito fiel aos meus princípios e não creio que mude facilmente de opinião (apesar de já ter mudado algumas vezes em relação a certas questões, mas isso faz parte daquela coisa a que se dá o nome de "amadurecimento"), muito menos de afectos (a menos que me façam alguma), mas já no que diz respeito à versatilidade, ó meus amigos, acho que já fiz de tudo um pouco: fiz teatro, já escrevi, em tempos idos, algo que se assemelha a poesia, já trabalhei num bar/esplanada, onde limpava afincadamente os cinzeiros, e num centro comercial numa loja de desporto; pelo meio fiz uma licenciatura em Línguas e Literaturas Modernas/Variante de Estudos Portugueses na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, supostamente para dar aulas de português, coisa que só realizei efemeramente durante o estágio na Escola EB 2,3 de Marinhais (experiência única e enriquecedora, por bons e por maus motivos); depois dei explicações e aulas de informática a crianças (algumas eram umas pestes) e daí segui para a experiência profissional e pessoal mais desgastante (do ponto de vista físico e psicológico) que espero nunca mais vir a repetir, pois ia arruinando a minha sanidade mental (que já não é muita, diga-se em nome da verdade); entretanto estive envolvida nas actividades de uma associação artística, onde também fiz de tudo um pouco, inclusive uma apresentação artística (poesia e música) na famigerada (no bom sentido) Festa do Avante; em termos desportivos (eu que fui sempre avessa a actividade física), comecei pela natação e acabei na salsa (actividade que pratico actualmente), tendo passado pela musculação, que afinal não é coisa só de e para homens! Aliás, o interesse foi tão grande que me levou a tirar um curso de Instrutor de Fitness Especializado em Musculação e Cardiofitness (só mesmo eu para me meter num curso com 40 e tal marmanjos, muitos deles formados em Educação Física, e no final ter alcançado a 4ª melhor média da turma)... Ah, estava a esquecer-me que no meio disto tudo ainda tirei a famigerada (agora, no mau sentido) carta de condução (no exame de código não falhei nenhuma resposta, o computador nº 10 deu-me sorte lá no barracão da DGV e no exame de condução nem sei como me safei, visto que fui fazê-lo com 39 graus de febre e logo a seguir fiquei de cama com uma broncopneumonia...), que está guardadinha numa gaveta, pois eu gosto mesmo é de andar nos transportes públicos... Não me enervo com as filas de trânsito, apenas com as pessoas que não respeitam a fila do autocarro e que não sabem que não se devem pôr todas à entrada da porta ou que no metro se põem à frente das portas e não deixam ninguém sair e que não percebem que devem deixar o lado esquerdo das escadas rolantes livre para quem quiser passar e que não quer, ou não pode, ir ali naquela molenguice... Já sem falar nas cenas caricatas que se passam nos ditos transportes públicos... Há uma grande amiga minha que tem histórias verdadeiramente hilariantes nesse aspecto... Até já lhe disseram, no metro, que ela tem joanetes (isso é coisa que se diga a alguém?). E eis que cheguei ao momento actual em que estou a trabalhar na edição crítica da Obra Completa de uma figura ímpar da cultura portuguesa do século XX - o Padre Manuel Antunes - trabalho esse que já me proporcionou muitos bons momentos (outros menos bons, sobretudo nas alturas de stress) e que já me permitiu aprender e fazer muitas coisas novas (tal como eu gosto) e conhecer pessoas que não deixam de ser sui generis (expressão latina que significa especial, peculiar)...
Mas o mais importante no meio destas coisas todas que já fiz (para alguns será coisa pouca) e que hei-de continuar a fazer (agora, deu-me na cabeça de ir fazer um curso de Produção e Marketing de Eventos), foram os amigos que fiz até agora...
Não há nada que substitua a amizade (Cícero já falava disso há uns bons anos atrás) ou que se equipare à amizade... Os namorados vão e vêm e tornam a ir (não tive assim tantos, atenção), mas os amigos estão sempre lá para o que der e vier, para o bem e para o mal, na saúde e na doença, etc... E não precisam de ser muitos, basta que sejam bons!
Obrigada a todos os meus amigos (eles sabem quem são) por me acompanharem nesta façanha inconstante que é a vida.

Acerca de mim

A minha foto
Things that I love: friendship, kindness, devotion, learn new things, meet new people, a nice conversation, a good laugh, a cup of ginger tea, feel the sun in my face, contemplate the sea. Things that inspire me: people and their achievements*, quotes that bring light into my life*, music, poetry, new beginnings. *including mine