sábado, setembro 20, 2008

Uma Questão de Confiança
Paris, ”uma cidade onde andar na rua é como andar numa universidade”. Esta frase proferida por Maria Lamas deixou-me a pensar. Como será andar noutras cidades? Roma, uma cidade onde andar na rua é como andar num museu ao ar livre, ao vivo e a cores, apesar dos turistas orientais, que são quase tantos como as "vespas". Atenas, uma cidade onde andar na rua é como andar numa biblioteca, não de livros, mas de monumentos que nos contam muitas histórias. E Lisboa? Como será andar em Lisboa? Hoje em dia é como andar em Copacabana mas sem as palmeiras e a água de côco, é como andar na Costa do Marfim, mas sem clima tropical, é como andar na Índia, sem Taj Mahal, é como andar na Ucrânia, sem os Montes Carpátos. Assim, eu diria que andar em Lisboa é como andar por vários países e culturas diferentes, todos no mesmo espaço, mas não é, definitivamente, como andar numa universidade. Na melhor das hipóteses, é como andar numa escola de 3º ciclo e se for até ao 9º ano, é uma sorte!
À parte isto, e voltando à Maria Lamas...
Esta mulher teve um percurso de vida impressionante. Foi uma das primeiras mulheres jornalistas profissionais e pautou a sua vida pela defesa dos direitos humanos, em geral, e pela emancipação da mulher, em particular. Defendia a igualdade das mulheres "baseada na educação e na independência económica, através do exercício de uma profissão ou de um ofício". Escreveu uma obra de referência, A Mulher no Mundo (1952), organizou exposições, participou em congressos e conferências pelos Direitos da Mulher e pela Paz.
Não consigo perceber por que razão tendo nós em Portugal mulheres de tão alto gabarito em tantas áreas, o seu papel na cena política portuguesa seja tão apagado, quase de figurante... Tirando a Maria de Lurdes Pintasilgo, não me ocorre mais nenhum nome digno de nota. Os meandros da política portuguesa estão confinados ao poder masculino (seja ele hetero ou homo, o que não interessa agora para o caso). É tempo de as mulheres tomarem as rédeas da liderança na política, porque os homens já deram tudo o que tinham a dar (e não foi lá grande coisa). Atenção, não estou a dizer para votarmos em massa na Manuela Ferreira Leite nas próximas eleições, porque se ela for a única mulher candidata, ficamos na mesma ou pior, pois apesar de ser mulher, a sua maneira de fazer política é completamente "masculina" e não é isso que se pretende nem se procura...
Procura-se uma mulher que faça política à maneira feminina, isto é, com ponderação, com sensibilidade, com discursos claros e acessíveis e não uma verborreia de termos técnicos que ninguém entende ou um sucessivo enunciado de medidas "fantasma" que são prometidas, porém nunca cumpridas.... Chega de promessas e de palavras vãs (só para ganhar votos), precisamos de acções! Os homens são muito bons em palavreado, mas quando chega a hora h, normalmente são uma desilusão...
Ponham os olhos nos israelitas. Esta semana foi eleita líder do partido Kadima a ministra dos Negócios Estrangeiros Tzipi Livni, que afirmou há tempos, quando anunciou a sua candidatura: "Quero ser primeiro-ministro e ajo nesse sentido, a fim de proceder a correcções e mudanças (...) porque a opinião pública já não confia nos políticos e é preciso restaurar esta confiança".

4 comentários:

J. Maldonado disse...

Admiro bastante Maria Lamas, tanto pela sua vida como pela sua obra.
Realmente Lisboa está-se a tornar numa cidade multicultural, o que é bastante positivo, pois as civilizações constroem-se na miscigenação de povos. E o povo português é um exemplo concreto disso...
O (pre)conceito de raça pura é ilusório, só existe na imaginação (pobre) dos racistas e xenófobos.
Pior que a discriminação racial é a de géneros. Considero-a um apartheid encapotado, o qual existe no nosso país, infelizmente. :(
Devido à nossa latinidade, a mulher sempre foi relegada para segundo plano na cultura e na política. Aliás, o Estado Novo tinha uma política oficial de submissão da mulher ao poder do homem, a qual se consubstanciou em inúmeras leis discriminatórias, que, felizmente, foram abolidas no 25 de Abril. Nessa altura prevalecia um verdadeiro apartheid de géneros.
Para chegarmos ao nível de participação feminina na política dos países nórdicos, é preciso mudar as mentalidades, tanto dos homens como das mulheres de Portugal.
Séculos de submissão criam inconscientemente uma mentalidade de escravos, pelo que ainda há mulheres que pensam que esse tipo de actividades não é para elas... Há mulheres, p. ex., que não concordam com a admissão de mulheres nas Forças Armadas.
O despertar terá que começar em primeiro lugar pelas mulheres, a partir do qual ganhando consciência do seu poder, poderão encetar uma luta organizada contra o statu quo masculino.


PS: Gostei bastante deste post. Agrada-me saber que tens uma faceta de La Pasionaria, uma célebre líder comunista espanhola que comandou a resistência republicana contra as forças franquistas na Guerra Civil Espanhola, cujo discurso podes encontrar aqui:

http://www.youtube.com/watch?v=VaEyv8J2XI8

Pronto, lá estou eu a cansar-te a beleza com informações da treta... Desculpa, mas é mais forte do que eu... LOL

Anónimo disse...

"A busca pelos ideias, pode ser bonito, desde que não se percam nas coisas fúteis."


http://www.youtube.com/watch?v=Cy6iwP9Ux3A

Society
Eddie Vedder
Composição: Jerry Hannan

Oh, it's a mystery to me
We have a greed with which we have agreed
And you think you have to want more than you need
Until you have it all you won't be free

Society, you're a crazy breed
Hope you're not lonely without me...

When you want more than you have
You think you need...
And when you think more than you want
Your thoughts begin to bleed
I think I need to find a bigger place
Because when you have more than you think
You need more space

Society, you're a crazy breed
Hope you're not lonely without me...
Society, crazy indeed
Hope you're not lonely without me...

There's those thinking, more-or-less, less is more
But if less is more, how you keeping score?
Means for every point you make, your level drops
Kinda like you're starting from the top
You can't do that...

Society, you're a crazy breed
Hope you're not lonely without me...
Society, crazy indeed
Hope you're not lonely without me...

Society, have mercy on me
Hope you're not angry if I disagree...
Society, crazy indeed
Hope you're not lonely without me...

Vanessa disse...

Sempre se dicutiu se há uma forma feminina e /ou masculina de se agir, pensar, sentir. Não sendo eu uma sumidade nessa matéria, creio que os homens até poderiam agir, pensar e (permitir-se) sentir de outra forma se os grilhões culturais/sociais/económicos de uma sociedade ainda eminentemente masculina dessem lugar a uma sociedade onde as pessoas (independente do género) se permitessem agir e sentir como de facto muitas pensam. Há muito ainda para fazer para abrir mentalidades, fazendo evoluir mentes ainda muito torpes e tacanhas. E o tabalho de educar essas mentalidades pertence-nos a todos. Mas concordo contigo em geral; de facto pensar-se que já não há qualquer discriminação social, laboral. cultural entre homens e mulheres é ilusão. Basta vermos quando numa entrevista de emprego nos perguntam a nós mulheres se somos casadas, se prentendemos casar caso não sejamos ainda casadas ou se, pasme-se, pretendemos ter filhos. Esta discriminação esclarecida faz-me imensa confusão, sobretudo num país em que as fraquíssimas taxas de natalidade são 1 realidade que a curto-médio prazo vão gerar imensos colapsos socio-económicos, dado que sem filhos não haverá mais gente, gente até para trabalhar e dar continuidade a essas empresas que agora nos fazem essa descabida pergunta.

Bruno Miguel Pinto disse...

A dominância dos homens na política (assim como em outras posições de poder) não é exclusiva do nosso país, apesar de estarem a acontecer algumas mudanças por esse Mundo fora (Israel e Alemanha são bons exemplos). A questão é que a política à maneira feminina pode ser tão má ou pior que a maneira masculina. Por exemplo, os homens são geralmente mais agressivos que as mulheres, mas também são mais frontais. Mas, por mim, se forem competentes, venham as mulheres para Primeiro-Ministro e outras posições de destaque na política...

Acerca de mim

A minha foto
Things that I love: friendship, kindness, devotion, learn new things, meet new people, a nice conversation, a good laugh, a cup of ginger tea, feel the sun in my face, contemplate the sea. Things that inspire me: people and their achievements*, quotes that bring light into my life*, music, poetry, new beginnings. *including mine