quarta-feira, agosto 27, 2008

Os solteiros são mais felizes
Não sou eu que o digo (embora o pudesse dizer com conhecimento de causa), mas sim um psicoterapeuta brasileiro (Flávio Gikovate) numa entrevista que deu à revista Sábado e que a minha Amiga F. partilhou comigo.
Este senhor, que parece ser uma pessoa com a cabeça muito bem "arrumada" (também quero ser assim quando chegar aos 65 anos de idade!), conseguiu passar para o papel o que muitos de nós se têm vindo a aperceber, i.e., de que as relações amorosas estão a mudar, em consequência de um novo estilo de vida que está a emergir no mundo moderno.
Como a entrevista é por demais interessante, vou transcrever aqui algumas passagens e cada um, na sua consciência, fará o juízo de valor que lhe aprouver. Se quiserem partilhá-lo comigo, já sabem, sou toda "ouvidos" ;)
O Sr. Flávio Gikovate defende que "amor e romantismo são conceitos que não encaixam no mundo moderno" e explica porquê: "o amor romântico (...) é incompatível com o desejo crescente de individualismo"; "Antes, o amor ganhava à individualidade porque não havia o que fazer com a individualidade. Hoje (...) a individualidade é tão preciosa que ninguém quer (e não deve) abrir mão dela para viver com alguém". O psicoterapeuta acrescenta que "Quanto mais o indivíduo for competente para viver sozinho, mais preparado estará para uma boa relação afectiva".
À pergunta "Os solteiros são mais felizes?", Flávio responde "São mais felizes que os mal casados. (...) Hoje (...) o mundo é mais favorável aos solteiros. A solidão é boa, ficar sozinho não é vergonhoso. Pelo contrário, dá dignidade à pessoa (ufa, assim já estou mais descansada!). As boas relações afectivas são parecidas com o ficar sozinho, ninguém exige nada a ninguém e ambos crescem".
Quanto aos "mal casados", o psicoterapeuta esclarece: "é muito perigoso depender de terceiros para ser feliz". No seu entender, essa "é uma luta individual".
De seguida, Flávio faz umas afirmações muito curiosas:
1. "No mundo moderno, os homens já não serão protectores, mas sim companheiros de viagem".
2. "Desde o nascimento, temos a impressão de ser uma "metade" (...). Temos de entender que não somos uma metade. No mundo moderno, o amor como remédio não funciona".
À pergunta "E porque é que tantas pessoas se casam várias vezes sem nunca acertar?", a resposta dada pelo psicoterapeuta brasileiro é "Porque insistem na ideia do amor romântico, que une duas metades incompletas, o que é um erro".
De seguida, Flávio faz mais umas afirmações brilhantes:
1. "É preciso conhecer-se a si mesmo e ser capaz de viver sozinho".
2. "Amor significa aconchego físico (pois significa, e é mesmo disso que estou a precisar, mas chiu, não se chibem a ninguém, hein?), amizade é afinidade intelectual".
Em relação às vantagens de as pessoas viverem em casas separadas para não interferirem na liberdade de cada um, Flávio enumera-as: avanço moral, avanço da capacidade de viver sozinho, aprender a resolver a situação de incompletude em si mesmo (...)".
E eis que chegamos à minha afirmação favorita: "individualismo não é egoísmo" (o sublinhado é meu, e quero destacar bem esta ideia, porque muitas vezes nós, os solteiros, somos acusados de sermos pessoas egoístas).
Flávio enuncia em seguida as características de um "relacionamento maduro, com qualidade": "Lealdade, cumplicidade, respeito pelo outro".
Por fim, eis senão quando leio uma frase que contraria a velha máxima "os opostos atraem-se". Flávio afirma peremptoriamente o contrário, ao dizer "A união tem de acontecer entre pessoas semelhantes, com os mesmos planos e projectos" (e como ele tem razão! Não foi à toa que eu terminei um relacionamento de quase 10 anos, mas isso são contas de outro rosário).
De tudo o que afirmou este psicoterapeuta brasileiro na entrevista à Sábado, gostaria de salientar duas ideias. Por um lado, a ideia de que no mundo actual não se pode ver o amor como um remédio para os nossos males. Já estamos numa fase da existência e da evolução humanas em que estamos mais "crescidinhos" e não devemos fazer as coisas por impulso, mas sim de forma consciente, i.e., pensada, reflectida, ponderada. Por outro lado, a ideia de que a felicidade é uma luta individual, ou seja, uma luta interior que não deve depender dos outros (e não é uma tarefa fácil, posso assegurar-vos). Sempre achei que nesta vida devemos ser autónomos ao máximo e em tudo (até na busca da felicidade), mas isso não significa que nos isolemos do resto do mundo. Temos é de crescer interiormente primeiro para depois conseguirmos relacionarmo-nos com sucesso com esse mesmo mundo - não sei se me fiz entender, nem se o que estou a dizer faz algum sentido... Whatever!

3 comentários:

J. Maldonado disse...

Mais uma vez quase me mataste de coração... LOL
Por acaso conheço bem esse estudioso brasileiro, com o qual me identifico bastante, por razões pessoais e objectivas.
Considero-o um dos melhores analistas do fenómeno das relações humanas actuais. Aprecio particularmente o enfoque que ele dá à questão de se viver sozinho por opção.
Subscrevo integralmente os seus pontos de vista, pois nos tempos actuais enaltece-se demasiado o gregarismo, o qual ostraciza quem aprecia o recato.
Viver sozinho ajuda a fortificar a autonomia pessoal. Quem é autónomo não necessita da exclusividade duma relação para se sentir realizado.
Este post deixou-me curioso em relação à tal entrevista da Sábado. Vou procurá-la e lê-la...
E bem-haja a tua amiga F., pois, presumo que seja uma pessoa com uma ampla visão da Condição Humana...

Patrícia T. disse...

Tu é que me dás cabo do coração a mim, Maldonado!

Ainda mal acabei de publicar este post e tu já estás a comentá-lo... Mas tu não dormes? Deves ter um dispositivo todo XPTO que te avisa de cada vez que alguém se atreve a publicar um novo post!

Estou a brincar contigo, é claro! Adoro os teus comentários!

Big kiss

J. Maldonado disse...

Por acaso até tenho esse dispositivo! LOL
É a minha arma secreta, a qual permite-me estar atento aos movimentos dos blogs aliados ou hostis... Ah, pois é! :)
Não sei como é que consegues gostar dos meus comentários, pois são tão virulentos que só despertam repulsa...

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