A idade da consciência
Ontem foi dia de benção das fitas em Lisboa. Calhou cruzar-me com duas felizes contempladas no eléctrico e enquanto olhava para os seus rostos jovens, cheios de esperança e de sonhos, pensava que também eu já tinha passado pelo mesmo ritual, que também eu já tive um rosto jovem, cheio de esperança e de sonhos...
Os anos passaram. O meu rosto continua a ser jovem (pelo menos por enquanto), continuo a ter esperança num mundo melhor, numa vida melhor (que não passa necessariamente pela aquisição de bens materiais), continuo a sonhar com o príncipe encantado ou desencantado (eu pelo menos gostava de o desencantar nalgum sítio), mas de certo modo perdi a inocência desses tempos e hoje tenho consciência de que, citando uma grande e sábia amiga minha,
"[nem] todas as pessoas são bem intencionadas ou «não fazem por mal». A vida provou-nos exactamente o contrário. Quanto mais velhos, mais gente cínica conhecemos, mais traídos somos nas nossas expectativas de vida, pelas pessoas e por muitas outras coisas; que um dia tudo fica bem. Eu e a Patrícia sabemos que não existem tesouros ao fundo do arco-íris. Talvez não faça mal acreditar nisso. Mas nós não acreditamos que velhas ordens se recomponham. Podem aparecer, isso sim, em forma de uma nova ordem pós-caótica, mas que nada tem a ver com a anterior. Por isso não temos vidas nada parecidas àquelas que tínhamos na faculdade; que perder as pessoas é das maiores lições de vida que temos de aprender a gerir, sobretudo se essas pessoas nos orientavam e eram parte integrante do nosso coração; que podemos perder tudo de um momento para outro, e isso é muito difícil de aprender. Mais uma vez, aprendemos que rapidamente a ordem estabelecida, ou a tentativa de o fazer, pode gorar, ruir; não acalentamos grandes expectativas quanto às pessoas. Só dá desgostos desnecessários. Sabemos que as outras pessoas nem sempre pensam ou sentem o mesmo que nós."
É fundamental termos esta consciência e não estou a querer dramatizar, simplesmente constato que há certas ilusões que são desnecessárias, ao passo que há outras que devemos acalentar, porque são elas que, muitas vezes, nos fazem seguir em frente.
3 comentários:
Nem acredito! ao fim de tanto tempo lá permitiste comentários à tua "Incontância", que bom! se já cá te vinha ler então agora posso fazê-lo e "falar" também um pouco contigo através dos comentários. De facto, ao olharmos para os jovens fnalistas...que no fundo se deveriam chamar debutantes, sentimos não uma inveja pelos seus tenros anos (porque a dureza da experiência q se chama Vida ainda irá actuar sobre eles) mas pela irresponsabilidade desses tempos, pela verdadeira esperança que lhe mora no rosto como tu dizes, aquele ainda é o tempo em que falta (mesmo) tanto tempo para tudo.
E sim as pessoas de "boazinhas" nada têm, se bem que como já falámos, em Portugal toda a gente é muito boa e o único defeito que as pessoas têm (ou se permitem ter) é o da teimosia...e eu teimosamente continuo a dizer que têm muito que mergulhar em si se assim pensam de facto. O melhor dos meus (muitos) defeitos será a teimosia mas enfim..
Continua a vir postar linda, é uma delícia poder ler-te. Faz bem or dentro. Beijo grande.
Gostei deste post, pois sensibilizou-me bastante. E a citação da tua amiga é bastante profunda, pois denota razoabilidade.
É sempre necessária uma motivação para prosseguirmos a nossa caminhada. É ela que nos anima perante as adversidades e que nos permite acreditar num futuro melhor. Todos nós precisamos de utopias...
Saber viver não é fácil, visto que não estamos sós neste mundo, por isso ao longo da vida, conforme a experiência pessoal, vamos aprendendo a lidar com as particularidades dos outros, que nem sempre são do nosso agrado. Por isso, há que não criar expectativas em relação aos outros, senão, inexoravelmente, surge o engano e a decepção.
O desprendimento é a melhor filosofia de vida. Só assim é possível manter-se incólume à passagem do tempo. E acreditar sempre que depois da tempestade vem a bonança...
O texto que citas é meu, não é? Acho sempre que escrevo muito mal, quando me releio...
Detesto a benção das fitas por isso mesmo, para onde irão aqueles licenciados todos? Que futuro, que empregos?
Ganhámos maturidade, querida, foi isso. Que pena que não foi o Euromilhões!!!
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