Selfish Post
Faz hoje dois anos que estou a viver sozinha (ou "comigo mesma", como costumo dizer quando me perguntam "moras com quem?"). E não, não é nenhuma mentira do dia 1 de Abril, é mesmo verdade.
Não deixa de ser interessante a experiência de viver sozinho. Não é para toda a gente, porque é uma prova de resistência diária - resistência à solidão -, é uma luta constante do eu com o eu - umas vezes tenho paciência para me aturar, outras nem por isso -, mas é também uma descoberta de mim própria - como eu sou, com os meus defeitos e algumas qualidades - e isso é algo muito importante. Há pessoas que passam pela vida e nunca se chegam a conhecer a si próprias, porque vivem de, para, com, em suma, em função dos outros.
Acho que já descobri mais sobre mim nestes 24 meses do que em vários anos da minha vida. É claro que o facto de estar a ficar mais velha também ajuda - ajuda-me(nos) a ter uma maior consciência das coisas e a ver o que me(nos) rodeia, e quem me(nos) rodeia, de outra perspectiva e com outra clareza. Como diria o Padre António Vieira numa breve mas clarividente passagem:
“Uma das potências da alma é o entendimento, o qual nunca aumenta e cresce, senão quando já desfalece o corpo; amostra desta verdade é a experiência, pois nunca os homens se vêem mais avultados no entendimento, senão quando muito crescidos nos anos, e para se aumentar aquela potência da alma, parece que com os muitos anos necessariamente se hão-de desfazer as forças do corpo.”
Acho que a (nossa) vida só faz (algum) sentido, se o entendimento aumentar e crescer, não só em quantidade, mas também em qualidade. Só assim poderemos evoluir e tornarmo-nos melhores seres. Ao tornarmo-nos melhores, o mundo será por consequência melhor, e essa devia ser a missão de todo o ser humano, sobretudo dos crentes (sim, dos crentes, leram bem) que, ao contrário dos não crentes, não fazem as coisas sem um interesse ulterior. A eles, dirijo estas palavras sábias do Padre António Vieira:
“O amor fino não busca causa nem fruto.”
“Quem ama porque o amam, é agradecido; quem ama para que o amem, é interesseiro; quem ama, não porque o amam, nem para que o amem, esse só é fino.”
3 comentários:
Como eu te compreendo!
Subscrevo integralmente o que dizes, pois, tal como tu, há muito que vivo essa experiência, a qual é bastante libertadora em termos espirituais.
O viver-se sozinho permite uma salutar experiência de auto-descoberta. Quem vive nessa situação ganha uma grande sensibilidade para conhecer a realidade humana. Ou seja, tem uma percepção mais apurada em relação a certos aspectos da condição humana.
É marcar-se a diferença numa sociedade que cultiva o gregarismo, o qual é castrador.
Entendo-te muito bem!
Viver sozinho é custoso e desesperante, por vezes. Mas é a melhor forma de nos encontrarmos connosco, nos conhecermos e compreendermos. Se se sobreviver a uma temporada assim, sobrevive-se a tudo!!
Agora que se pode comentar o teu blogue, ficas a saber que este é um dos textos meus favoritos.
PARABÉNS!
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