quinta-feira, outubro 09, 2008

Diz-me qual é o teu carácter (e não o teu sexo), e dir-te-ei quem és
Amanhã, dia 10 de Outubro de 2008, vai ser discutida (finalmente!) e votada no parlamento a proposta de lei que permite o casamento entre “pessoas do mesmo sexo”. Não quero ser pessimista ou agoirenta, porém, muito provavelmente, a votação será desfavorável, porque vivemos num país que (ainda) sofre de muitos condicionalismos (i)morais, que se rege por valores que estão completamente desfasados no tempo, que é refém de uma religião que se apregoa cristã (discriminar, e até condenar, alguém pela sua orientação sexual, é, de facto, uma atitude verdadeiramente cristã, não haja dúvidas), e outros “ques” que levariam o dia todo a ser enunciados. A democracia, apesar das suas virtudes, acaba por se aplicar só a uns (os que seguem a norma, seja em que aspecto for) e não a todos.
Por que razão duas pessoas que se amam, que pagam impostos como todas as outras e que queiram assumir, perante os seus familiares e amigos e perante a comunidade, esse amor não podem fazê-lo, só porque são do mesmo sexo? Para mim, o casamento (civil, entenda-se) é um compromisso que duas pessoas querem – voluntariamente (há situações em que não é por livre vontade, mas não vou agora por aí) – contrair uma com a outra pelos motivos que elas bem entendem, e não para “legitimar” o sexo (digo eu) ou para procriar (como alguém disse)… Que eu saiba há pessoas que se casam e que sabem, ou vêm a descobrir, que não podem ter filhos. Por essa ordem de ideias, o casamento dessas pessoas devia ser anulado, pois elas já não poderão cumprir o desígnio matrimonial (absurdo, não?).
Como costumo dizer, deixemos de lado os nossos preconceitos (sejam eles de que natureza forem) e analisemos a questão de forma objectiva. Chegaremos à conclusão que não faz qualquer sentido esta discriminação imposta pela lei (já basta a discriminação imposta pela sociedade retrógrada em que vivemos). É uma questão de igualdade, de justiça e, até, de liberdade que está em causa, e é por estes “valores” que me bato. Pode parecer, à primeira vista, que pertenço à comunidade gay, tendo em conta o número de vezes que a defendo, mas não é preciso pertencer a nenhum “grupo” específico para se ter consciência das injustiças e do sofrimento das pessoas.
Todavia, esta discussão vai sempre ficar pela metade, porque desta feita, só será equacionado o “problema” do casamento, ficando a faltar ser equacionado o “problema” da adopção por pessoas do mesmo sexo. Continuo a achar que duas mulheres ou dois homens podem amar tanto uma criança, e proporcionar-lhe um ambiente familiar estável e uma vivência feliz, como um homem e uma mulher. A meu ver, nesta matéria da adopção, o que importa não é o género, que nos definiu à nascença, mas o carácter, que nos define na crescença. Oxalá, todos pudéssemos pensar sem nenhum tipo de “censura” a toldar-nos o pensamento…

4 comentários:

J. Maldonado disse...

O chumbo à partida está garantido, pois o mais importante é levantar-se ondas com essa questão.
Está na hora do nosso país mudar de mentalidade a fim de exorcizar o fantasma do ti António que paira sobre as nossas leis e costumes.
Os governantes portugueses, ao contrário de nuestros hermanos, não têm cojones, pois temem a influência da Igreja e seus satélites, nomeadamente a Opus Dei, nas intenções de voto das próximas eleições.
Infelizmente a visão dos portugueses em relação ao casamento ainda é judaico-cristã, fruto de séculos de beatismo farisaico, por isso os casamentos gay são encarados como aberrantes pela maioria da população.
Não é a orientação sexual que define a nossa maneira de estar em sociedade, mas o nosso carácter. Por isso é absurdo o preconceito contra a comunidade LGBT. Só quem não a conhece é que a teme...
É uma questão de justiça estender-se o instituto jurídico do casamento a casais homossexuais, pois são tão bons cidadãos como os casais heterossexuais.
E já que o Estado anda sedento de novas fontes tributárias, se oficializasse o casamento homossexual, iria ganhar mais contribuintes, pois o IRS é maior para os casados...

Bruno Miguel Pinto disse...

As mudanças de mentalidades levam o seu tempo, têm de ser amadurecidas. Portanto, ainda que a lei não passe desta vez, podemos consolar-nos por estarmos a caminhar nesse sentido.

Vanessa disse...

E as previsões confirmaram-se...a proposta chumbou...triste mas verdade num país que continua a mostrar uma clara falta de vontade política em evoluir, de mostrar que Portugal faz, de facto, parte da Europa e sobretudo que se quer afirmar como 1 país recto, justo e humano. Shamefull!

Cassandra disse...

Estas coisas demoram o seu tempo, mas se a questão racial na América foi atenuada em 100 anos... nós podemos contar com mais uns 200 para a igualidade de cidadania ser conferida aos homessexuais. Como bem assinalaste, somos, para nosso mal nestas questões, um país católico e provinciano.

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